O carro é quase um segundo lar para milhões de moradores de grandes metrópoles do mundo e do Brasil. Estimativas revelam que em São Paulo, capital com a maior quantidade de veículos do país e detentora dos recordes de congestionamento, o paulistano gasta quase duas horas por dia no trânsito. Em busca do tempo perdido, as pessoas tentam aproveitar as brechas no “para e anda” para fazer de tudo, principalmente pelo celular – um dos maiores inimigos da direção segura, logo atrás do álcool. Para amenizar o problema, cresce o número de programas para celular que ajudam o motorista a não se preocupar com o aparelho e se concentrar ao volante.
Pode parecer exagero classificar o celular como inimigo número dois da direção segura, mas estudos conduzidos pela Universidade de Utah, nos Estados Unidos, sugerem que apenas 2% das pessoas conseguem fazer de modo seguro coisas como retocar a maquiagem e mandar torpedos enquanto dirigem. É o mesmo porcentual de pessoas com habilidade psicomotora para se tornar piloto de caça.
O problema não é só ocupar as mãos com algo que não seja o volante. Preocupante é a defasagem de concentração em relação àquilo que deveria importar ao motorista: o trânsito, seu carro e os outros veículos. Mesmo com recursos como viva voz, bluetooth e fone de ouvido, falar ao celular não é como conversar com um passageiro. “Quando a pessoa recebe uma ligação, há uma descarga de adrenalina, mistura de surpresa e curiosidade”, afirma o médico Dirceu Rodrigues Alves Junior, um dos diretores da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet). “É impossível não perder a concentração por cinco segundos, tempo em que um carro terá andado 100 metros se estiver a 80 quilômetros por hora.”
Além disso, quando as pessoas dão atenção ao som que emana do aparelho, a capacidade de apreensão visual diminui. Um dos testes do estudo da Universidade de Utah mostrou que pessoas que beberam até quatro latinhas de cerveja reagiram com mais rapidez e causaram menos acidentes que condutores sóbrios ao celular. “Quando as pessoas falam ao celular, focam a atenção à conversa e ficam lentas nas respostas imediatas ao que fazem”, afirma Dirceu Rodrigues. A situação é diferente no caso de um passageiro, que funciona como um segundo motorista, atento ao tráfego e deixando de falar de acordo com as condições do trânsito.
O vilão não é o celular em si, mas a desatenção que ele causa. Pesquisas realizadas entre seguradoras da América do Norte e da Europa revelam que 75% dos acidentes com veículos acontecem em velocidade de até 30 quilômetros por hora, devido à distração do motorista. Dados da Administração Nacional de Segurança no Trânsito dos EUA mostram que 80% dos acidentes acontecem três segundos depois de algum desvio de atenção. No Brasil, não há dados tão específicos, mas especialistas afirmam que a situação é igual. Olhar para o DVD no painel do carro, tentar sintonizar uma estação de rádio, procurar objetos no porta-luvas, acender um cigarro, comer um lanche e até colocar o cinto de segurança com o carro em movimento são alguns dos principais fatores de risco, diz o médico Dirceu Rodrigues. “Chamamos isso de ato inseguro, ou seja, atos corriqueiros, mas perigosíssimos, que desviam a concentração do motorista e aumentam a possibilidade de um acidente.”
Não há possibilidade de uso seguro do celular ao volante. Leis e multas costumam ser ineficazes para forçar o condutor a largar o vício do aparelho – atire a primeira bateria quem nunca deu uma ligadinha enquanto dirigia. Por isso, os novos programas para celular são eficientes: eles ajudam o usuário a controlar a tentação de atender e fazer ligações. Eles bloqueiam as funções do aparelho e evitam a distração do motorista. Há vários deles, desde os mais simples e gratuitos até pacotes com assinatura mensais e serviços personalizados.
Um dos primeiros programas para celulares no carro foi criado depois de um susto no trânsito. O americano Matt Howard, especialista em softwares para celular, voltava para casa em seu carro quando resolveu responder a uma mensagem de texto. A distração fez com que ele, por pouco, não atropelasse o filho de um vizinho. A solução foi criar um software que permitisse enviar torpedos por meio de comandos de voz. O usuário dita a mensagem que vai mandar e o celular a envia para o destinatário em forma de SMS. É possível mandar mensagens para redes sociais. Não é seguro como um telefone desligado, mas exige menos atenção que conversar ou digitar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário